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Entrevista com Marissa Mayer, VP de Experiência do Usuário do Google – Época

O Google não é um monopólio

Entrevista concedida à Peter Moon

A executiva que ocupa a quarta posição na hierarquia do Google fala do futuro dos sites de busca e explica por que sua empresa tanto se opôs à compra do Yahoo pela Microsoft.

Marissa Mayer

Marissa Mayer se acha uma mulher de sorte. Com apenas 32 anos, é a mulher mais importante do mundo da tecnologia. Ela está no quarto lugar na escala hierárquica do Google, uma das duas empresas mais influentes da atualidade (a outra é a Apple). Acima de Marissa só estão os dois fundadores da empresa, Sergey Brin e Larry Page, além do seu CEO, Eric Schmidt. Com mestrado em ciência da computação pela Universidade Stanford, Marissa começou a trabalhar no Google em 1999. Ocupa hoje o pomposo cargo de vice-presidente do Serviço de Busca e de Experiência do Usuário. Em outras palavras, ela é a responsável pelo filé da empresa – além de ser sua porta-voz oficial.

Ninguém sabe qual é o tamanho da sua fortuna, mas ela está avaliada em várias centenas de milhões de dólares. Não bastasse, com 1,73 metro de altura, Marissa Mayer é daquelas loiras esguias de olhos azuis donas de um sorriso perfeito. Não deixa nada a dever a uma atriz de Hollywood como Cameron Diaz. Mas Marissa não é atriz nem top model. Ela é uma alta executiva. Nesta entrevista exclusiva a ÉPPCA, ela anunciou uma nova iniciativa da empresa, o iGoogle Artists. Mas também falou do futuro dos sistemas de busca e explicou por que o Google se opôs à tentativa da Microsoft de comprar o Yahoo – abandonada pela empresa de Bill Gates no último final de semana.

ÉPOCA – O que é o iGoogle Artists?
Marissa Mayer – É uma iniciativa onde um grupo de 70 artistas de 17 países criaram temas ou panos de fundo para ilustrar as páginas do Google São nomes como os estilistas Dolce & Gabbana, Oscar de la Renta, Ron Wood dos Rolling Stones, as bandas Coldplay e Beastie Boys, a fotógrafa Anne Geddes, o ciclista Lance Armstrong, o ator Jackie Chan, e muitos outros. A Brasil está representado pelo pintor Gustavo Rosa e os cartunistas Fábio Moon & Gabriel Bá. A idéia é fornecer aos usuários um leque de opções que possa realmente refletir a personalidade de cada um. Cada artista produziu diversos temas que se alteram ao longo do dia. E outros artistas irão se juntar ao time.

ÉPOCA – Qual é o futuro dos sites de busca?
Mayer – Nos próximos cinco a dez anos, quatro áreas irão guiar as mudanças no mecanismo de busca. A primeira delas consiste em onde e como se pode realizar buscas. Hoje, a imensa maioria das pessoas faz isso no PC, digitando palavras-chave dentro de uma caixa. No futuro, iremos falar com o mecanismo de busca através do telefone e poderemos fazer perguntas ao invés de usar palavras-chave. Será possível fazer buscas de dentro do seu carro, por exemplo.

A segunda área que fará a diferença no serviço de busca são os diferentes tipos de mídia, que serão integrados ao serviço. Vídeo, imagens, notícias, livros, blogs, áudio. O desafio é incorporar todas estas formas de conteúdo em uma página da web sem que pareça uma enciclopédia. O terceiro item se chama personalização. A busca será cada vez melhor do que é hoje. Mas não basta fornecer melhores resultados. É preciso conhecer as necessidades específicas de cada usuário. Para atingir esse objetivo, precisaremos entender quais são as suas preferências ou o local onde eles se encontram – tudo para poder melhorar a qualidade das respostas. O quarto componente é a busca social Não confunda com personalização. O desafio da busca social é descobrir como fazer um levantamento das preferências e do conhecimento das pessoas com quem o usuário se relaciona, ou de outros usuários parecidos com ele. Por exemplo: você quer ir ao cinema e gostaria de saber a opinião de seus amigos sobre determinado filme. Hoje em dia, a única forma de saber isso é perguntando a eles. A idéia é usar a internet para determinar quais são os gostos e opiniões dos seus amigos.

ÉPOCA – Mas isso não é invasão de privacidade?
Mayer – Qualquer mecanismo de busca pode, em determinado grau, tocar a questão da privacidade. Mas, nesse caso, o Google só irá saber quem são os seus amigos se você nos contar. Nós não saberemos o que eles fazem, a não ser que você nos conte. Você me perguntou como será a busca daqui dez anos? É óbvio que até lá nós já teremos resolvido esse problema. Mas se, assim mesmo, você não quiser usar o produto, ninguém irá obrigá-lo.

ÉPOCA – O Orkut, que pertence ao Google, é a maior rede social no Brasil. Mas fica muito atrás do Facebook e do MySpace no resto do mundo. Como você explica esse caso de amor entre o Orkut e o Brasil?
Mayer – As redes sociais são muito diferentes umas das outras. Elas atraem diferentes tipos de pessoas, e os usuários escolhem uma ou outra dependendo de onde estão seus amigos. Nos Estados Unidos, a maioria dos usuários está no Facebook ou no MySpace. No Brasil, a maioria está no Orkut. Esta é a razão para ele ser o site mais visitado do país.

ÉPOCA – Por que o Google fez oposição à tentativa da Microsoft comprar o Yahoo?
Mayer – Acredito que a concorrência é boa. Uma coisa que mantém a qualidade dos mecanismos de busca é a competição pelos usuários. Atualmente, dois dos nossos melhores concorrentes são o Yahoo e a Microsoft. Se eles se fundissem, talvez pudessem criar um melhor serviço de busca, mas certamente haveria menos concorrência, o que seria ruim para os usuários e para o mercado.

ÉPOCA – A News Corporation de Rupert Murdoch também está tentando fazer negócio com o Yahoo. Na sua opinião, isso seria ruim para a livre concorrência?
Mayer – Não posso fazer comentários em cima de suposições. A única coisa que posso afirmar é que a concorrência cria melhores serviços de busca e fornece mais satisfação para os usuários. Menos concorrência resulta em menos inovação.

ÉPOCA – Primeiro vocês lançaram o Google Earth. Depois veio o Google Sky. Qual é o próximo passo, dominar o universo? O Google terá o monopólio da web?
Mayer – Existem milhões de web sites. Um monopólio implica que exista apenas um único. A missão do Google é desenvolver aplicativos que facilitem a experiência dos usuários na internet. Fazendo isso, acredito que estamos contribuindo para expandir a internet.

ÉPOCA – Em 2007, o Google anunciou o desenvolvimento de um sistema operacional para celulares chamado Android. Mas ele ainda não saiu do papel. O Android existe de fato ou é um vaporware, a tática diversionista de mercado?
Mayer – O Android é real. Quando se cria um sistema operacional, é preciso contar com muitos desenvolvedores criando aplicativos para rodar dentro dele. É nesta fase que nós estamos. O programa ainda não está pronto para ser usado por consumidores como a minha mãe, por exemplo. Mas eu acredito que num futuro próximo vamos começar a ver produtos rodando o sistema Android.

ÉPOCA – Como você se sente sendo a mulher mais em evidência da empresa mais em evidência do planeta?
Mayer – Não sei como responder a esta pergunta.

ÉPOCA – Tente, por favor.
Mayer – Não ocupo meus pensamentos com essas coisas. Penso em termos da grande responsabilidade que carrego, que é melhorar a experiência dos usuários e do serviço de busca do Google. Isso significa um trabalho muito difícil e prazeroso. Acredito que tenho muita sorte, porque na minha função tenho a oportunidade de trabalhar com pessoas ótimas em cima de problemas muito importantes.

Fonte: Revista Época – edição 520.

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SOBRE O AUTOR

Rafael Rez

Autor do livro “Marketing de Conteúdo: A Moeda do Século XXI”, publicado pela DVS Editora. Possui MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2013. Fundador da consultoria de marketing digital Web Estratégica, já atendeu mais de 1.000 clientes em 20 anos de carreira. Co-fundador da startup GoMarketing.cloud. Fundou seu primeiro negócio em 2002, de onde saiu no final de 2010. Foi sócio de outros negócios desde então, mantendo sempre como atividade principal a direção geral da Web Estratégica. Além de Empreendedor e Consultor, é Professor em diversas instituições: HSM Educação, ILADEC, Cambury, ESAMC,ALFA, ESPM, INSPER. Em 2016 fundou a Nova Escola de Marketing.

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